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Encontro de Culturas Negras

Arte, conhecimento, resistência e inclusão marcam a sétima edição do Encontro de Culturas Negras

Evento terminou neste sábado, 4 de outubro

  • Publicado: Segunda, 06 de Outubro de 2025, 16h11
  • Última atualização em Sexta, 10 de Outubro de 2025, 10h36
Arte, conhecimento, resistência e inclusão marcam a sétima edição do Encontro de Culturas Negras
Arte, conhecimento, resistência e inclusão marcam a sétima edição do Encontro de Culturas Negras

Terminou na noite deste sábado, 4 de outubro, o Encontro de Culturas Negras do Instituto Federal de Goiás. Durante o evento, os participantes tiveram a chance de participar e de conferir várias ações no Câmpus Uruaçu. Atividades artístico-culturais, ações relacionadas à pesquisa e voltadas à conscientização marcaram o Encontro, trazendo arte, cultura, conhecimento e uma mensagem de resistência ao evento como um todo. 

Fazendo um balanço do Encontro de Culturas Negras, o pró-reitor de Extensão, professor Willian dos Santos, destacou a importância do evento para o IFG: "Vivenciamos um momento histórico para o Instituto Federal de Goiás. A realização conjunta do VII Encontro de Culturas Negras, do Seminário para Educação das Relações Étnico-Raciais, do VII Copeneco e do I Encontro Regional de Educação Escolar Quilombola da região Centro-Oeste expressa a força da nossa comunidade acadêmica e o compromisso institucional do IFG com a promoção da equidade racial, o reconhecimento das matrizes africanas e afro-brasileiras e a valorização das identidades quilombolas".


Para o pró-reitor, "esses encontros, ao articularem ensino, pesquisa e extensão, reafirmam a formação humana integral como eixo estruturante do nosso projeto educativo. Foram dias de intenso diálogo, partilha de saberes e fortalecimento de vínculos entre estudantes, servidores, pesquisadores, mestres de saberes tradicionais e lideranças comunitárias. Mais do que eventos, vivemos um gesto político e pedagógico de resistência e esperança. O IFG segue comprometido em construir, com as comunidades e movimentos sociais, uma educação que reconhece, valoriza e transforma, uma educação que se faz com o outro, em diálogo e em movimento".

 

Ao longo do Encontro, foram realizadas diversas atividades. Uma delas foi um momento tradicional de divulgação de pesquisas e de compartilhamento de conhecimento, com a realização de mais uma edição do Seminário de Educação para as Relações Étnico-Raciais. O evento em sua 11ª edição foi dividido em sessões temáticas. Nelas, estudantes, servidores e professores puderam apresentar suas pesquisas e dialogar, compartilhando saberes e conhecimentos.

Seminários são apresentados no Encontro de Culturas Negras

As temáticas do Seminário foram bastante variadas: Ciências e tecnologias a partir de uma perspectiva negrorreferenciada; Pensamento Interseccional e educação antirracista; Estudos africanos, da diáspora e da cultura afro-brasileira; Educação das relações étnico-raciais; Infâncias negras e práticas pedagógicas antirracistas; Raça, racismo e antirracismo no Centro-Oeste; Oralituras nas escritas literárias da resistência; Saúde da população negra; Políticas de ações afirmativas e bancas de heteroidentificação no Centro-Oeste; entre outros assuntos estiveram na pauta do evento que ocorreu na sexta-feira. 

Mas não foi só a pesquisa que esteve presente no segundo dia do evento. Durante todo o dia, diversas atividades foram realizadas. Entre elas, estavam as oficinas de Street Dance, Jongo, Fotografia, Dança Afro, Oficina de autocuidado, Adobe, Rapadura, Ancestralidade através do cabelo, confecção de brincos e colares africanos, além de giras de discussão e mesa-redonda dos outros eventos que compõem o Encontro.

 

Mulheres Negras no Encontro: Feira Multicultural

Afinado com o tema do Encontro de Culturas Negras deste ano, “Mulheres do Centro-Oeste: por reparação e bem viver”, o evento, além de apresentações de pesquisa, rodas de conversa e oficinas, realizou uma feira multicultural intitulada “Mulheres Negras do Centro-Oeste”, na qual mulheres negras apresentavam e vendiam seus produtos e, concomitantemente, dividiam com o público um pouco de suas histórias. 

Arroz, gergelim, pimenta de macaco, arnica, grápia, velame branco, carobinha e diversos tipos de óleos e remédios naturais… Esses são alguns dos itens que Deusamir Francisca da Conceição, conhecida como “Fiota”, estava vendendo na feira multicultural do Encontro de Culturas Negras. 

Fiota participa da Feira Multicultural, no Encontro de Culturas Negras

 

Fiota é moradora do povoado Vão de Almas, do município de Cavalcante, em Goiás, localizado no maior quilombo do Brasil. Segundo ela, “a venda de produtos em feiras faz parte da minha vida há quase 30 anos”. Ela explicou que: “no IFG Uruaçu, é a segunda vez que venho. Vim ano passado e agora neste ano, mas faço feiras em Alto Paraíso, Cavalcante, Brasília”, conta.

Uma questão importante ressaltada por Fiota é como o conhecimento da extração dos produtos que ela vende é repassado. Falando de óleos, ela comenta: “eu aprendi a extrair óleos com minha avó e passo esse conhecimento para frente. Você tem que saber usar. O óleo de mamona é um ótimo óleo, por exemplo, mas pode ser tóxico, por isso precisa saber usar. Você precisa de conhecimento para usar”. 

Fiota destacou a importância de saber sobre as plantas, as florestas e, principalmente, informar e passar os conhecimentos e os saberes ancestrais para outras pessoas: “para que a tradição não se perca”, explica. Como lembrou Deusamir: “é importante informar outras pessoas, dar cursos sobre as plantas e os remédios”. 

Fran Shakur também participou da Feira Multicultural. Originária do quilombo de Aparecida de Goiânia, professora de libras e braille, Shakur contou que faz um trabalho de reabilitação com crianças e que o fruto desse trabalho era o que ela estava apresentando no Encontro de Culturas Negras. Como explicou a professora, “faço um trabalho sustentável, utilizando livros, revistas, jornais, criando bonecas africanas: esculturas africanas”. 

Fran Shakur no Encontro de Culturas Negras

Fran Shakur chamou atenção para o fato de que são os alunos os responsáveis por pintar as esculturas de bonecas. “Ao mesmo tempo em que pintam, os alunos fazem um trabalho que ajuda a locomoção, a mobilidade”, conta. 

O trabalho é realizado por Shakur há cerca de 8 anos. Ela explica que vai a muitas feiras, mas “é a primeira vez aqui no Encontro e está sendo uma experiência muito boa participar”. Segundo Fran Shakur, o trabalho com as crianças tem um objetivo: “é para que os alunos compreendam que todo mundo tem um talento para alguma coisa. É preciso apenas soltar a criatividade”.

 

Música, Encontro e Compreensão

E a criatividade musical se fez presente também no Encontro por meio de várias apresentações. Uma delas fez com que o público do Encontro fosse direto para a pista de dança, ou melhor, “o pátio de dança”. A atração responsável foi o Baile Black, que foi realizado na sexta-feira à tarde, no pátio do Câmpus Uruaçu. Durante o baile, Jéssika Gomes, que é professora de dança, comandou o público na pista, enquanto a DJ Kevene foi a responsável por escolher as músicas. 

Jéssika falou um pouco sobre o significado do evento e contou que é a segunda vez que ela participa do Encontro: “eu sou muito feliz, pois aqui a gente encontra muitos amigos que estão no Instituto e em outras instituições”. “Esse é um encontro da negritude e aqui podemos falar de tudo: poesia, música, pesquisa, liberdade, territórios”, afirmou. 

Jéssika Gomes (à direita) e estudantes participam do Baile Black, no Encontro de Culturas Negras

Como explicou a professora, “o Encontro proporciona atividades que as pessoas muitas vezes não conhecem. Esse evento faz com que os alunos tenham uma compreensão mais ampla sobre vários conteúdos, na área da cultura, na área da literatura, da história, além de possibilitar o conhecimento de vários projetos da negritude”. 

Jéssika resumiu seu sentimento sobre o Encontro de Culturas Negras dizendo: “O que eu mais amo é que aqui a gente consegue se encontrar. E não é só nas atividades, nas oficinas, mas é que a gente realmente para pra conversar, trocar ideias, surgem outras conexões que só acontecem porque a gente está aqui, surgem outros convites para além daqui”. Jéssika finalizou dizendo: “eu gosto muito da palavra ‘Encontro’ para o evento, porque a gente se encontra de diversas formas aqui; a gente trabalha, a gente conversa, tem lazer, tem conhecimento, e tudo isso é muito importante e especial”.

 

Teatro e MCs

A noite de sexta-feira começou com uma apresentação teatral para o público que estava no Encontro de Culturas Negras. Com o objetivo de destacar e homenagear as ancestralidades indígenas e afro-diaspóricas, “Ancestrais, a benção” levou ao público uma performance que homenageou ancestralidades, unindo dança, poesia, música e audiovisual. 

“Ancestrais, a benção” é encenada no pátio do Câmpus Uruaçu, durante o Encontro de Culturas Negras

Depois do teatro, foi o momento de o Encontro abrir espaço para a tradicional batalha de MC’s, que é um duelo no qual os participantes apresentam raps improvisados, utilizando rimas e versos. Depois da batalha, a programação da noite foi fechada com a apresentação cultural da MC Kaemy. 

MC Kaemy se apresenta no Câmpus Uruaçu

Tricampeã estadual e campeã nacional de freestyle (2023), Kaemy, que nasceu em Uruaçu, representou Goiás na Superliga da Batalha da Aldeia, durante o The Town Festival 2025, em São Paulo. A jovem que começou o seu caminho no rap há mais de dez anos participou de um dos maiores festivais de música do país e na noite desta sexta-feira se apresentou no pátio do Câmpus Uruaçu, no Encontro de Culturas Negras. 

 


Encerramento do evento: resistência e inclusão

O último dia do evento foi marcado pela realização de algumas oficinas, minicursos, mesas-redonda, além de apresentações culturais.  “Quilombolas na Educação Básica” foi o tema de uma mesa-redonda que ocorreu na manhã do sábado, no auditório do Câmpus Uruaçu. O objetivo da atividade foi discutir aspectos do currículo, das práticas pedagógicas e falar um pouco de resistência nos territórios quilombolas. Os participantes da mesa destacaram a importância de resistir no chão da escola e questionar a respeito das práticas pedagógicas e pensar estruturalmente o currículo escolar. 

Leila Aparecida de Silva, professora na Escola Estadual Zumbi dos Palmares, do Mato Grosso do Sul, chamou atenção para a importância da resistência na escola: “o sistema nos poda, por isso precisamos resistir”. Leila, durante sua fala, contou a respeito da luta para que a escola na qual ela trabalha conseguisse ter a estrutura que ela tem hoje: “hoje nossa escola tem uma boa estrutura, estamos bem amparados, mas foi uma luta muito grande, tivemos que resistir e lutar”.  

Mesa-redonda com o tema “Quilombolas na Educação Básica” acontece no Encontro de Culturas Negras

Falando de estratégias em sala de aula, Leila destacou: “a gente precisa pegar os saberes tradicionais e agregar aos currículos. Não é fácil fazer isso, pois há muita resistência, muitas vezes do próprio estudante, muitas vezes da própria família… Há resistência até de conhecer a própria história, resistência com a religiosidade. E essas são lutas que temos diariamente. Não é fácil, mas é possível e necessário trabalhar para quebrar essas resistências”.

Nirda Rosa de Oliveira, professora na Escola Quilombo do Chumbo, em Mato Grosso, contou que a escola na qual ela trabalha não tem a estrutura ideal: “é uma escola que atende mais de 200 pessoas e está bastante precária”. 

Nirda falou da negação de direitos quilombolas que são garantidos por lei e pontuou: “a luta continua e precisa continuar. No chão de sala, ainda há entraves, há muita resistência. Não podemos aceitar um sistema racista. Temos que levar o nosso conhecimento, a nossa ciência, os nossos saberes para dentro da sala de aula”.

A docente ressaltou que é necessário usar a voz e não deixar que outros falem sobre os quilombos e os quilombolas: “Nós precisamos falar de nós mesmos. Quem tem que falar de nós somos nós. Quem tem que contar nossas histórias somos nós. Precisamos trabalhar a nossa identidade, questionar quem somos, conhecer a nossa origem”.

Quem também falou da necessidade de questionar sobre a identidade quilombola foi Adão Fernandes da Cunha. O professor, que atualmente está fazendo pesquisa no doutorado na Universidade de Brasília e é diretor da Escola Kalunga, no município de Teresina de Goiás, chamou atenção para a importância de questionar e tentar responder algumas questões: “quem são, onde estão e como estão os quilombolas? Essas são perguntas essenciais para a nossa prática”. Adão ressaltou que “um dos maiores desafios nessa área é identificar quem são os quilombolas”.

Adão, Nirda e Leila durante mesa-redonda no Encontro de Culturas Negras

Em sua fala, Adão destacou a necessidade de “olhar para a escola e resgatar os quilombolas para que eles possam conhecer sua própria história e origem, por meio da educação”. O docente também falou da importância de incluir as crianças: “É preciso questionar e pensar a respeito da inclusão das crianças quilombolas na Educação Básica. Elas precisam fazer parte da Educação Básica”, afirmou o docente. 

Adão finalizou sua fala lembrando que “o sistema é quem o opera. As pessoas que formam o sistema. Precisamos desconstruir os preconceitos, precisamos pensar estruturalmente para incluir os quilombolas, de fato”. 

 

Carta de Uruaçu e Cortejo

Finalizando o Encontro de Culturas Negras, no auditório do Câmpus Uruaçu, no sábado à tarde foi realizada a conferência de encerramento, que teve como tema a “Marcha das Mulheres Negras”, evento que acontecerá no dia 25 de novembro deste ano e que também tem como tema “justiça, reparação e bem-viver”. 

O Encontro de Culturas Negras terminou com a leitura da 3ª Carta de Uruaçu e a primeira carta do EreeQ-CO. Além disso, foi realizado um cortejo afro com o grupo Sankofa, liderado pelo professor Kemuel, do Câmpus Inhumas. O show de encerramento foi realizado por Thainá Janaina e o grupo Novo Esquema. 

Fazendo uma análise da realização do evento, a diretora-geral do Câmpus Uruaçu e coordenadora-geral do Encontro, Andreia Alves do Prado, afirmou que "o Encontro de Culturas Negras 2025, realizado  junto ao Congresso de Pesquisadores Negros e Negras do Centro-Oeste e ao I Encontro Regional de Educação Escolar Quilombola do Centro-Oeste, foi um momento de potência e celebração. Foram dias marcados por alegria, partilha de saberes e conexões inspiradoras entre participantes de todo Centro-Oeste".

Como pontuou a gestora, "o evento reafirmou o compromisso coletivo com a luta antirracista, fortaleceu a união entre instituições de ensino, movimentos sociais e comunidades tradicionais e renovou as energias para seguirmos construindo caminhos de reparação, bem-viver e justiça racial".

 

 

 

Veja fotos do evento no Instagram do IFG , no perfil do Evento no Instagram e no Facebook do IFG

 

 

Diretoria de Comunicação Social/Reitoria.

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